Opinião

2024, ano de blá blá blá

Nery Porto Fabres

Estava lendo um livro sobre a política, o qual tratava da história de um presidente da República. A figura ilustre, que era destacada como protagonista do enredo histórico, foi presidente do Brasil no período entre 1930 a 1945 época em que o Brasil atravessava momentos de dificuldades financeiras para custear as despesas com suas contas externas.

O livro aborda de maneira curiosa o fim de seu mandato que deu-se em 1945, deixa clara a ideia de que foi um acordo com seus aliados. Depois o autor da obra busca resgatar o patriotismo e transforma o homem novamente em herói e o traz aos braços do povo para outro mandato em 1951… entre tragédias e festejos a obra leva-o ao suicídio com um tiro no peito em 1954, em meio a escândalos, traições e mistérios.

Nós professores, que somos leitores habituais, porque a profissão nos exige, quando somos interpelados por essas obras literárias que são escritas com interesse político partidário, sentimos uma sensação de impotência, porque mesmo sabendo que se trata de um livro que quer criar uma narrativa para atender interesses de um grupo de pessoas somos obrigados a ler para nossos alunos. Por qual motivo somos obrigados? Porque é o governo quem decide quem escreve e quem deve ler e impõe a sua vontade. Isso se chama Plano Nacional de Educação, o qual põe os professores assumindo o serventismo político -partidário.

Ora, se um grupo de pessoas que administra uma nação pode, deliberadamente, produzir obras literárias alterando a história do país e criando símbolos positivos para a nação crer em suas conquistas e glórias, como explicar para a maior parte da população brasileira que esses livros são mera imposição dos governantes que ditam a conduta de um povo?
Neste caso específico, das três obras distribuídas em capítulos, escritas pelo jornalista Lira neto, com o título Getúlio 1, 2 e 3, nada mais são do que uma história de um presidente da República gerado pela literatura romancista, sim é um romance que tinha um personagem central, o protagonista, que representa uma figura política que toma emprestado o nome e o sobrenome, tanto quanto o período histórico em que viveu esse político brasileiro.

O autor da obra se torna onisciente e onipotente sobre o destino heroico e histórico deste personagem fictício e envolve o leitor, fazendo-o cair na armadilha de aceitar a história fictícia como verdadeira.

Isso traz ao atual momento brasileiro a necessidade de reflexão, não apenas sobre estes textos escritos em momentos políticos, como ano de eleição, em que o Brasil se socorre à literatura para impor a criação de sua nacionalidade, de sua identificação política, de sua ideologia social e de suas convicções éticas e morais.

A reflexão crítica desses assuntos, em que a comunicação nos alcança por meio da literatura ou pelas redes sociais que promovem discussões acerca da política, da economia, da organização social e da estruturação do pensamento brasileiro, deveria ser primordial nas escolas.

Pois se não pararmos agora e nos acautelarmos para fazermos esta iminente reflexão, em breve não haverá mais como reverter este processo de confusão que o Brasil criou, que apenas atende grupos políticos com o intuito de se manterem no poder com uma falsa ideia de dignidade de vida ao povo.

Que dignidade? Hospitais caindo aos pedaços, escolas sucateadas, ruas escuras, cidades sem saneamento básico, povo faminto de todas as fomes e a política comemorando os conluios no Congresso Nacional. Certamente não deveríamos permitir que o ano de 2024 seja mais um ano de blá blá blá...

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